O mistério da literatura
Tribuna de Minas, 20 de Agosto de 2014 – 06:00
Escritora infantil e juvenil, Glaucia Lewicki encontra leitores de Juiz de Fora e divulga seu recente ‘O desafio do Museu da Língua Portuguesa’
Por MAURO MORAIS
A língua esconde as raízes. Por trás do português que aprendemos ao crescer, está a história do reino português. Por sua vez, o tal reino oculta uma batalha durante a Idade Média, que o consolidou. A língua, algo naturalmente cotidiano, preserva histórias que a narrativa de Glaucia Lewicki propõe desvendar em “O desafio do Museu da Língua Portuguesa” (Franco Editora, 124 páginas). Lançado esse ano, o livro da escritora de Niterói integra uma série de obras passadas em museus do país, como “O enigma do Museu Mariano Procópio”, de 2007. Dessa vez, a museóloga Eloísa e seus filhos se deparam com a necessidade de proteção de um patrimônio imaterial, composto por palavras.
“Temos o privilégio de falar, escrever, compor e pensar em uma das mais belas línguas do mundo. Falar dos acontecimentos que ajudaram a forjar essa identidade e formar essa língua é uma maneira de valorizá-la ainda mais”, conta a autora, que visita Juiz de Fora nesta quarta e quinta, encontrando estudantes de escolas locais que adotaram sua obra.
“Sempre procuro dar informações históricas em meus livros que informem o leitor, mas também que possam servir de ponto de partida para a ampliação do conhecimento daquele fato, objeto ou período de tempo citado, ajudando na construção de sua identidade e memória pessoal, de brasileiro e de ser humano”, comenta Glaucia, apontando para a importância do fortalecimento da memória, o que proporciona a capacidade de “refletir e escolher as lições que desejamos repetir e aquelas que desejamos esquecer”. Com exatos 20 títulos lançados, desde sua estreia na literatura, há pouco mais de dez anos, a escritora enfoca com seu trabalho a formação linguística e a informação histórica.
Segundo Glaucia, sua trajetória ascendente foi naturalmente construída, mas nada que lhe impeça de se surpreender com o que conquistou. “Nunca imaginei, em um espaço de tempo tão curto, chegar à marca de 20 livros publicados por diversas editoras, assistir a uma matéria sobre um livro meu encerrando o “Jornal Nacional”, receber um prêmio tão cobiçado quanto o Barco a Vapor, alcançar o selo de altamente recomendável e integrar duas vezes o Catálogo de Bolonha. Sem contar a participação em diversos eventos importantes ligados à literatura e todas as pessoas incríveis que conheci nesse processo, entre leitores, professores, ilustradores, outros escritores e os diversos profissionais que trabalham nas editoras”, diz.
Um olho nas prateleiras, outro no caderno
Ainda que seus leitores variem entre 6 (período da alfabetização) e 13 anos (idade que antecede a entrada no ensino médio), a escritora demonstra na produção sobre os museus seu interesse em criar séries de fôlego, o que têm conquistado os adolescentes e se tornado um dos principais filões do mercado editorial. “Cresci assistindo a seriados e sempre gostei de ler livros que ofereciam uma continuação. É muito bom poder conviver com personagens dos quais gostamos por mais tempo. Além disso, escrever uma série oferece ao autor uma ótima forma de continuar desdobrando uma premissa que ainda renderia boas histórias após o primeiro livro, como no caso de ‘Harry Potter’ ou ‘Percy Jackson’. No entanto, o número de autores estrangeiros ocupando a preferência dos leitores nesse mercado ainda é muito grande. O desafio é descobrir onde nós, autores brasileiros, podemos nos encaixar”, discute Glaucia Lewicki.
A autora diz não produzir pensando na adoção pelas escolas, “mas não há como negar que esse é um mercado significativo para as editoras”. “É nele que várias delas concentram boa parte de suas vendas. Portanto, não é incomum receber pedidos de textos direcionados à venda em escolas, aproveitando temas que podem ser trabalhados com os alunos em sala de aula. O processo inverso também ocorre: você escreve um livro que não é especialmente direcionado a escolas, e acontece de ele ser adotado”, conta, ressaltando não se importar em ver seus textos sendo encarados como “leituras obrigatórias”. Glaucia sabe que, além de indicações, os pequenos são exigente e, especialmente, sinceros: “Escrever para criança é para os fortes, já que eles costumam falar, na maior naturalidade, do que gostaram e do que não gostaram no seu texto. Além disso, saber que você está participando do processo de formação de um leitor é uma experiência especialíssima e muito marcante.”
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