Ainda mais oculto
Enigma de obra infantojuvenil que se passa no Museu Mariano Procópio desperta curiosidade dos jovens leitores, impedidos de desvendá-lo pessoalmente
Por RENATA DELAGE
“Vamos lá pessoal! O museu reabrirá suas portas amanhã à noite. Ainda temos muito que fazer.” Quando escreveu “O enigma do Museu Mariano Procópio”, Glaucia Lewicki mal poderia imaginar que o museu, de fato, fecharia suas portas, e por tantos anos. Na obra infantojuvenil, lançada em 2007, com selo da Franco Editora e apoio da Lei Murilo Mendes – hoje na terceira edição -, a instituição passa por uma revitalização. “Revitalizar, Juliana, é dar vida novamente”, explica, no livro, a museóloga responsável pela missão da filha caçula. No ano seguinte ao lançamento, os visitantes já não mais possuíam acesso aos cenários que compõem a história e ao acervo que vai sendo desvendado em meio aos mistérios da trama.
“Depois que lancei o livro, não pude mais visitar o museu, pois logo estava fechado”, conta a autora, que é de Niterói e esteve ontem em Juiz de Fora para visitar escolas que adotaram a obra – além de
outros títulos de sua autoria -, como a Academia de Comércio. Os encontros com as turmas são sempre repletos de perguntas e curiosidade. “Alguns temas abordados acabam preparando-os para receber um conteúdo que ainda não foi estudado”, observa Glaucia.
Em “O enigma do Museu Mariano Procópio”, Juliana – apelidada de Jujuba -, ao lado dos irmãos, Camila, Hugo e Tadeu, acompanha a mãe na finalização dos trabalhos de revitalização. Brincando pelos jardins do museu, as crianças recebem das musas gregas uma missão: localizar um poderoso objeto, oculto no local sob a forma de enigmas, cobiçado há séculos pela maligna Confraria das Sombras. Ao seguir suas aventuras, os leitores conhecem personagens e objetos históricos, mergulham na mitologia grega e em acontecimentos marcantes da América Latina e do Brasil.
O título é o primeiro da série composta por quatro livros, que vai ainda ao Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro, ao Catetinho, em Brasília, e ao Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Neste último, o que deve ser encontrado e protegido, contudo, não é um objeto, mas um patrimônio imaterial: a língua portuguesa. “Existem várias formas de manifestação do nosso patrimônio, assim como de sua preservação. A história, a literatura, as artes têm o poder de envolver e cativar os leitores”, destaca a escritora.
Aguçando interesses
“Como seria interessante se possuíssemos nosso ‘tíquete do tempo’… Poderíamos nos transportar para outros tempos e espaços. Conheceríamos Alfredo Ferreira Lage, o grande colecionador que fundou o Museu Mariano Procópio. Poderíamos escutar a Princesa Isabel tocando piano na Villa. Ou mesmo espiar D. Pedro II escrevendo seu diário sobre sua viagem por Juiz de Fora. Ver o entra e sai dos empregados, a chegada de convidados e peças maravilhosas vindas de todos os cantos do mundo…”, divagou o então diretor-superintendente da fundação, Mello Reis, no prefácio da obra.
A ideia de desenvolver uma trama que se desenrola nos domínios do Museu Mariano Procópio foi uma sugestão da editora local, que publicou o primeiro livro de Glaucia, em 2003, “Coelhos na cartola”. “Em uma vinda à cidade para uma rodada de visitas às escolas, passamos próximo ao museu, e o editor propôs que eu escrevesse uma história de mistério que se passasse ali. Como gosto de museus e histórias de detetive, adorei a ideia.” A autora já aproveitou a oportunidade para visitar as instalações, conhecer o acervo exposto e os jardins, além de coletar informações com os funcionários. Logo foram iniciadas as pesquisas que embasariam a história.
Glaucia destaca como é válida a experiência de poder levar os alunos para uma visita ao local onde a história lida é ambientada, lembrando que praticamente todos os leitores de sua obra nunca estiveram no Mariano Procópio, ou, se já o visitaram, eram muito pequenos para se recordar. “Ao mesmo tempo em que se interessam pelos objetos históricos expostos, lembram a todo tempo dos personagens, das passagens do livro, ficam sempre muito empolgados em conhecer mais”, pontua a autora. “Tais histórias são escritas para despertar o interesse das crianças e dos jovens por esses locais e sua história, e é uma pena que eles não possam vivenciar essa curiosidade”, lamenta.